Os cabalistas têm a oferecer?

Luria, cabalista, no final do séc. XVI, propôs o seguinte: Deus, infinito, se contraiu. Nesse espaço liberado pela contração divina, Ele criou o universo. Esse universo era morto, então Ele colocou ali vasos para emitirem luz. No entanto, por um desastre, os vasos não foram capazes de suportar a luz divina e se romperam, fragmentando-se em cacos que decaíram e, nessa queda, levaram feixes dessa luz. Assim, o universo, em vez de estar integrado a Deus, está separado. Trata-se de um exílio cósmico. Disso decorre, segundo Luria, que a Shekinah (presença divina) resolveu acompanhar o universo no exílio, ou seja, ela estaria separada de Deus, e Deus dividido. Outra consequência é que as centelhas de luz divina que estão nos cacos só serão recuperadas pelas boas ações, pelos méritos da humanidade, ou seja, cada vez que alguém faz uma boa ação, recupera uma centelha divina. Dessa forma, só os homens em colaboração com Deus poderiam recuperar as centelhas divinas. O conserto do mundo seria, então, o papel da humanidade. O próprio fato de o homem tentar recuperar as centelhas divinas instauraria a Era Messiânica. Para que Messias, então? Eis a pergunta para a qual o Luria não tinha uma resposta convincente.

Gosto da ideia de que o conserto do mundo seria o papel da humanidade, sobretudo quando penso que tal feito implica inexoravelmente o conserto, por cada homem, de si mesmo. Não acho, porém, que o fato de os homens se incumbirem desse conserto instaura a era messiânica. Mas, em vez disso, sinaliza que ela já foi instaurada.

 “O sinal da presença de Deus numa sociedade não são os milagres, mas a Igreja” (Ed René Kivitz).

“A igreja existe, mas raramente com esse nome” (Paulo Brabo).

“Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro de si e ver-se a si mesmo?” (Padre Antônio Vieira).